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No início da história da terapia antirretroviral para o HIV, na década de 1990, os medicamentos disponíveis não só provocavam diversos efeitos colaterais como também dependiam da tomada de muitos comprimidos várias vezes por dia e do armazenamento refrigerado em geladeira.

Naquela época, tomar o tratamento do HIV corretamente não era uma tarefa nem um pouco fácil.

De lá pra cá, o arsenal de antirretrovirais melhorou absurdamente, nos permitindo hoje montar um esquema de tratamento inteiro em um único comprimido diário que ainda por cima não tem efeitos colaterais significativos.

Tal transformação facilitou (e muito) a adesão e a vida de todas as pessoas que vivem com HIV/Aids. No entanto, nem assim a ciência não se deu por satisfeita e continuou procurando maneiras de tornar ainda mais fácil a tomada de antirretrovirais para o tratamento ou para a prevenção do HIV com a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP).

Nessa linha de pesquisa, a primeira frente aberta testou os antirretrovirais injetáveis de longa duração. Quem saiu na frente foram os medicamentos aplicados por via intramuscular no glúteo a cada dois meses (Cabotegravir para a PrEP e Cabotegravir associado à Rilpivirina para tratamento). 

Com diferentes ensaios clínicos publicando resultados animadores que demonstravam eficácia semelhante ou superior à dos comprimidos diários, esses medicamentos já conseguiram a autorização para uso em países da Europa e da América do Norte.

Depois foi a vez de outro medicamento injetável, mas dessa vez aplicado semestralmente por via subcutânea no abdômen (Lenacapavir). Ele já se mostrou em diferentes estudos uma potente alternativa para tratamento do HIV e agora está sendo testado para uso como PrEP.

Se para algumas pessoas os medicamentos injetáveis de longa duração podem ajudar na adesão ao tratamento ou à PrEP, para outras são justamente as agulhas que assustam, assim como as injeções podem causar dor e outras reações no local da aplicação.

Por esse motivo, uma segunda frente nessa linha de pesquisa vem sendo desenvolvida há alguns anos com o desenvolvimento de medicamentos antirretrovirais administrados na forma de comprimidos de longa duração, e recentemente começamos a ver os seus primeiros bons resultados.

Um primeiro antirretroviral experimental estava se mostrando promissor para o uso em comprimidos tomados semanal ou mensalmente (Islatravir), No entanto, devido a um efeito colateral grave com a diminuição dos glóbulos brancos, suas pesquisas foram paralisadas e revistas, o que levou à redução das dosagens utilizadas e consequente melhora dessas alterações.

Já com a dosagem reduzida, o Islatravir foi testado em associação ao Lenacapavir tomados em comprimidos semanais em um estudo do início do ano, conseguindo bons resultados em 94% dos 104 participantes vivendo com HIV/Aids incluídos.

Mais recentemente, foi a vez da PrEP semanal começar a ganhar forma. Em um estudo desenvolvido pelo Centro de Controle de Doenças dos EUA, os pesquisadores testaram a administração de um antirretroviral em comprimidos semanalmente (Tenofovir Alafenamida) em macacos, que posteriormente foram expostos por via vaginal ou retal ao HIV para simular a transmissão sexual do vírus. A proteção obtida variou entre 80 e 94%.

Além dos antirretrovirais citados, existe ainda uma longa lista de drogas experimentais de longa duração candidatas para ensaios clínicos como estes para o tratamento e a prevenção do HIV.

Em resumo, nos próximos anos, os medicamentos antirretrovirais, que já tinham melhorado absurdamente desde a década de 1990, prometem tornar ainda mais fácil a vida das pessoas ao redor do mundo com suas apresentações em comprimidos semanais.

E com toda essa variedade de medicamentos, fica cada vez menor a chance de um indivíduo não encontrar nenhuma alternativa que se adapte à sua vida.

*Texto originalmente postado na seção VivaBem do UOL.

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