Desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou o Mpox novamente como uma Emergência de Saúde de Importância Internacional na última quarta-feira (14 de agosto), tenho visto muita gente se desesperando, mas pelos motivos errados.
Será que temos aqui no Brasil motivos agora para desespero? Na minha opinião, temos e não temos.
Começando pela lista do “não temos”, é importante entender que o anúncio de agora não tem qualquer relação com o surto de Mpox que chacoalhou o Brasil e o mundo em 2022. Agora, a preocupação e alerta da OMS vêm do comportamento atípico que um tipo de Mpox (o Clado IB), diferente do que causou o surto de 2022 (Clado IIB), está tendo em alguns países da África Central.
Nos últimos meses, os casos e as mortes por este novo subtipo estão aumentando lá de forma inédita. Mas, até o momento, o mesmo não está acontecendo fora do continente africano. Mas pode ser que comece a acontecer.
Também como motivo para o não desespero, posso citar o fato de que para Mpox já existe vacina e ela ajuda tanto para proteger contra uma infecção quanto para tornar os casos incidentes mais brandos.
Por outro lado, acho que temos sim motivos para preocupação. Basta lembrar como foi o surto pelo Clado anterior em 2022. Bastou que pessoas doentes com o Mpox saíssem da África e tivessem contato próximo com outras pessoas passando suas férias na Europa para que, rapidamente, tivéssemos casos da doença registrados em todos os continentes.
Até o momento, não temos indícios de que algo semelhante esteja acontecendo com o novo subtipo. Por isso, acredito que essa preocupação deve ser canalizada para a melhora da vigilância para que possamos detectar precocemente uma eventual mudança no padrão epidemiológico do Mpox aqui no Brasil.
Outro motivo de preocupação é pelo fato de não termos ainda conseguido controlar em definitivo o surto anterior de Mpox. Até hoje temos casos esporádicos da doença sendo registrados pelo país, um sistema de suspeição, diagnóstico e notificação de casos enferrujado e um plano de vacinação contra Mpox que parou no meio do caminho sem cumprir seu objetivo.
Em 2022, o Ministério da Saúde comprou 49.000 doses da vacina e recomendou inicialmente a imunização para pessoas vivendo com HIV com imunodepressão grave e profissionais de laboratório que se expunham ao vírus. Depois, passou a recomendar a vacina para todas as pessoas que viviam com HIV e para usuários de PrEP (Profilaxia Pré-exposição ao HIV). No entanto, nenhum dos grupos incluídos nas recomendações conseguem sequer encontrar doses disponíveis nos centros de imunização.
Em junho de 2024, a Deputada Federal Duda Sababert (PDT-MG) questionou o Ministério da Saúde sobre a situação do plano de vacinação para Mpox no país, e a resposta da pasta apontou que das 49.000 doses compradas, apenas 29.165 haviam sido aplicadas.
Definitivamente não devemos gastar energia nos desesperando com as coisas erradas. Eu me preocupo com o fato de termos se apresentando no horizonte a possibilidade de um novo tipo de Mpox circular pelo mundo sendo que na última vez que isso aconteceu em 2022, nosso sistema de saúde não reagiu de forma adequada.
Se for para gastar energia em algum lugar em relação ao Mpox, acho que precisamos primeiro ficar atentos ao surgimento de uma nova onda de casos e enquanto isso cobrar onde estão as 19.835 doses de vacina que foram compradas e não aplicadas.
Qualquer coisa além disso agora, é especulação.
*Texto originalmente postado na seção VivaBem do UOL.