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O desenvolvimento de um tratamento antirretroviral para o HIV transformou definitivamente no final da década de 1990 a humanidade. Com ele, as pessoas recebiam esse diagnóstico tinham como interromper a progressão de uma doença com péssimo prognóstico se não tratada, para se manterem bem, com saúde e qualidade de vida.

Desde então, o avanço da ciência conseguiu deixar a terapia antirretroviral ainda melhor para seus usuários. Seja pelo melhor perfil de efeitos colaterais ou pela facilidade posológica, ao longo dos anos manter o HIV sob controle se tornou uma tarefa cada vez mais fácil.

Diversos estudos nesse período demonstraram, por exemplo, que uma boa maneira de se melhorar a adesão dos pacientes ao tratamento era a coformulação de todas as drogas do esquema em uma única pílula diária.

Não havendo mais a necessidade de se carregar os comprimidos ao longo do dia e nem de se esconder para tomá-los, tal estratégia reduzia o impacto da sorofobia da rotina de vida. Dessa forma, reduzia-se o número de doses perdidas do tratamento, de falhas terapêuticas e a seleção de cepas virais resistentes aos medicamentos antirretrovirais.

Ainda que em outros países existam diversas opções de tratamento antirretroviral em pílula única diária, aqui no Brasil até hoje tivemos disponível apenas um esquema desse tipo, contendo Tenofovir, Lamivudina e Efavirenz. Ele foi amplamente utilizado a partir de 2015 e era conhecido como “3 em 1”.

Na época, o “3 em 1” até foi considerado um enorme avanço terapêutico, afinal, os esquemas disponíveis anteriormente dependiam da tomada de muitos comprimidos. No entanto, embora o esquema tivesse potente atividade antiviral, os eventos adversos neuropsiquiátricos do Efavirenz, tais como tontura e sonolência, fizeram que aos poucos o “3 em 1” deixasse de ser usado no Brasil e no mundo.

A partir de 2018, o esquema antirretroviral preferencial, e que logo se tornou o mais utilizado do país, passou a ser o que contém Tenofovir, Lamivudina e Dolutegravir. Tomados, os dois primeiros, em um comprimido e o último em outro. Dois comprimidos por dia, mas com impressionante melhora no perfil de efeitos colaterais.

Depois de passarmos os últimos 4 anos sem novidades no tratamento do HIV, o Brasil está prestes a iniciar uma nova era de sua história. No segundo semestre de 2023 teremos incorporado ao arsenal terapêutico do SUS (Sistema Único de Saúde) o esquema em comprimido único diário com Lamivudina e Dolutegravir.

Trata-se de um esquema simplificado, montado apenas com duas drogas, que em uma série de ensaios clínicos realizados a partir de 2019, se mostrou igualmente eficaz ao esquema triplo no controle do HIV. E isso com ainda menos efeitos colaterais, sobretudo aqueles renais e ósseos entre pessoas com mais idade, associados ao uso do Tenofovir por um longo período.

O tratamento em comprimido único diário com Lamivudina e Dolutegravir já havia sido aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no final de 2021, mas somente esse ano avançaram as negociações do Ministério da Saúde para a sua incorporação ao SUS.

O primeiro lote de comprimidos deverá chegar ao país a partir de setembro, deixando o Brasil um pouco mais próximo do que já foi no passado como referência mundial em enfrentamento da epidemia de HIV/Aids.

Para saber se você é um candidato a utilizar o esquema antirretroviral simplificado e o novo tratamento em pílula única diária, converse com o seu médico infectologista e tire todas as suas dúvidas.

A ciência envolvida na prevenção e no tratamento do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é dinâmica e avança numa velocidade cada vez maior. Precisamos como cidadãos estar atentos às novidades para podemos cobrar a incorporação dessas atualizações e melhorar com isso a vida de todos.

Viva o SUS!

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