Na última semana, uma decisão do Ministério da Saúde trouxe ânimo na luta contra o câncer de colo de útero no Brasil. A partir de agora a vacinação contra o HPV (Papilomavirus Humano), o principal causador dessa neoplasia, é recomendada em dose única para meninos e meninas com menos de 15 anos de idade. E de quebra, pessoas com menos de 20 anos que não foram vacinadas poderão também receber uma dose da vacina.
Desde que havia sido aprovada no Brasil, a vacina de HPV era aplicada em duas ou três doses, a depender da idade do indivíduo. No entanto, depois de acumulada suficiente evidência científica, OMS (Organização Mundial da Saúde) e OPAS (Organização Panamericana de Saúde) chegaram à conclusão de que, para indivíduos menores de 20 anos, a proteção contra o HPV após uma única dose da vacina é comparável à do esquema completo.
Entre essas evidências, temos inclusive dados de vida real, como o da Escócia que anunciou o registro de zero casos de câncer de colo uterino entre mulheres cis que tinham sido vacinadas com pelo menos uma dose da vacina de HPV na infância.
A vacina quadrivalente contra o HPV disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) é capaz de induzir imunidade robusta contra os principais subtipos virais causadores de cânceres como os de colo de útero, pênis, vulva, canal anal, boca e garganta. No entanto, as melhores taxas de proteção são encontradas quando as doses são aplicadas antes do início da vida sexual de um indivíduo. É por isso que no Brasil as doses são indicadas para pessoas de 9 a 15 anos incompletos.
Mesmo que tenha razão para existir, esta faixa etária de indicação da vacina de HPV é também um dos principais obstáculos para que o Brasil alcance coberturas vacinais satisfatórias. Isso porque muitos dos pais desconhecem os argumentos científicos para a recomendação e preferem manter seus filhos e filhas o mais distantes possível de qualquer coisa que envolva a temática das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Já ouvi dezenas de pais dizendo “Por que devo vacinar minha princesa se ela nem iniciou a sua vida sexual?”. É simples: porque é vacinando nessa fase da vida que a vacina induz a maior proteção contra o HPV.
Só para se ter uma ideia, segundo o Ministério da Saúde, embora a meta de cobertura vacinal seja de 90%, menos de 60% das meninas e menos de 30% dos meninos no Brasil receberam o esquema vacinal completo.
Neste cenário, as mudanças recentes nas recomendações de vacinação pra HPV são excelentes em diferentes aspectos. Primeiramente, com a dose única, o mesmo estoque poderá vacinar mais pessoas. Mas principalmente porque, com a busca por indivíduos não vacinados de até 19 anos para a aplicação da dose única, teremos o potencial de vacinar aqueles que quando crianças foram superprotegidos pelos pais mas que agora adultos jovens já podem decidir sobre sua própria saúde.
Além do Brasil, outros 37 países já adotaram o esquema de vacinação com dose única da vacina contra o HPV, como Reino Unido, Argentina, México e Austrália.
Se você tem menos de 20 anos de idade e já recebeu pelo menos uma dose da vacina de HPV, não precisará mais tomar nenhuma dose adicional. Mas vale lembrar que o novo esquema com dose única da vacina não vale para outros grupos populacionais também vacinados pelo SUS, como pessoas vivendo com HIV ou com alguma imunodeficiência de até 45 anos de idade. Para esses grupos, o esquema continua sendo feito com 3 doses do imunizante.
Você pode ajudar o Brasil a vencer o HPV e os cânceres causados por ele. Espalhe essa notícia para todas as pessoas com menos de 20 anos de idade e nos ajude a combater a desinformação existente sobre essa vacina entre os pais de meninos e meninas.
*Texto originalmente postado na seção VivaBem do UOL.