Amar e ser amado vivendo com HIV

Amar e ser amado vivendo com HIV

Todos os dias, pelo mundo todo, das cidades com as infraestruturas mais abastadas às mais precárias, diversas pessoas recebem o diagnóstico positivo para HIV. E uma questão que costuma acompanhar o diagnóstico é: será que ainda vai ser possível namorar, me casar ou ter filhos?

A busca por uma relação amorosa é cercada de diversos fatores como a cultura, padrões estéticos, habilidades socioemocionais, disponibilidade de recursos financeiros e só aqui já seria super difícil. Quando a sorologia para o HIV faz parte da equação é comum que as pessoas cheguem à conclusão de que não poderão mais amar ou serem amadas. 

No trechinho do romance Você Tem a Vida Inteira, do autor Lucas Rocha (2020, 2ª edição, Editora Galera) temos um diálogo entre as personagens que narram um pouco dessa experiência:

“Era sempre assim: nossas conversas, por mais sombrias que fossem, sempre terminavam com os dois sorrindo feito bobos. Nossos encontros me deixavam com um sentimento bom, um gosto doce no fundo da garganta, que me fazia crer que, sim, eu poderia ser feliz sem acreditar que aquilo era uma caridade do Universo. Porque o HIV faz isso comigo, mesmo depois de três anos: ele me faz acreditar que o amor do outro é por piedade e não uma troca” (grifos nossos, p. 119)

Acreditar que é indigno de ser amado por viver com HIV não é uma experiência individual. Os caminhos para reconstruir essa ideia passam por etapas, algumas delas são:

- o fortalecimento de um senso de si e de autoestima para além do diagnóstico;

- o enfrentamento a ideias preconceituosas e de discriminação;

- a informação sobre como o tratamento ao HIV torna as pessoas indetectáveis e intransmissíveis;

- a compreensão de que casais sorodiscordantes sempre existiram;

- a disponibilidade para se vulnerabilizar e conhecer novas pessoas, aprofundar vínculos e se permitir viver relações de intimidade.

Acredite, o amor é possível e existe de muitas formas. Não necessariamente apenas o amor romântico! 



Dr. Lázaro Castro é psicólogo clínico (CRP-08/20085), doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela UnB, atua na área de prevenção combinada e é apoiador da Associação Para Todes.

 

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