
O carnaval e a DoxiPEP
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A campanha oficial de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) no carnaval que começou a ser veiculada pelo Ministério da Saúde na última semana é uma verdadeira celebração da Prevenção Combinada.
Inspirada em Faraó, o consagrado hino carnavalesco da ministra da cultura Margareth Menezes, a trilha da campanha tem como refrão “Êeeeeeeeeee, Prevenção!”.
Diferentemente de tempos sombrios não tão distantes assim em que as campanhas procuravam, por meio da promoção do medo, fazer com que as pessoas se prevenissem, a campanha de 2025 logo de cara já manda um “Na folia, o melhor é se divertir”. Com isso, se alinha às tendências mais modernas de abordagem desse tema, unindo conceitos como qualidade de vida sexual e prevenção de ISTs por meio da associação dos diferentes métodos disponíveis e eficazes de prevenção.
Convidando o expectador para se atualizar sobre esses métodos, a campanha fala sem medo de camisinha, vacinação, testagem e Profilaxias Pré e Pós-Exposição ao HIV (PrEP e PEP), tirando de uma vez a camisinha do pedestal de único método possível de prevenção.
Se tudo der certo, na campanha do carnaval do ano que vem, teremos um personagem novo nesse bloco: a DoxiPEP (Profilaxia Pós-Exposição às ISTs bacterianas com Doxiciclina).
DoxiPEP é uma estratégia de prevenção contra ISTs bacterianas (sífilis, clamídia e gonorreia), que consiste na tomada de uma dose única do antibiótico Doxiciclina após as relações sexuais. Nos estudos realizados até o momento a DoxiPEP reduziu em mais de 80% a transmissão de sífilis e clamídia, e em cerca de 50% da gonorreia. E seu uso se encontra em fase de avaliação e planejamento de implementação pelo Ministério da Saúde.
Se o plano der certo, a DoxiPEP começará a ser distribuída gratuitamente pelo SUS (Sistema Único da Saúde) já no segundo semestre de 2025 mirando principalmente a prevenção da sífilis. E com isso, promete derrubar os ainda crescentes casos dessa IST no país, como já o fez nos locais que iniciaram a sua implementação.
Com esse movimento, o Brasil se junta ao grupo de países, como Reino Unido, Austrália e Alemanha, que discutem e planejam a implementação da DoxiPEP como política pública, todos se espelhando no modelo já implementado dos Estados Unidos.
Pelo seu perfil favorável de efeitos colaterais e por sua facilidade posológica de comprimidos que não requerem planejamento pré, mas pós-sexo, a DoxiPEP se encaixa com perfeição às situações pontuais de exposição às ISTs bacterianas, como é o caso do carnaval e outras festas populares.
Pelo mesmo motivo, no Brasil se estuda o início da recomendação de agregar a indicação da DoxiPEP à de PEP-HIV em todas as situações em que ocorrem exposições sexuais de risco não planejada. Atualmente a profilaxia contra ISTs bacterianas é recomendada apenas em casos de violência sexual e com um esquema complexo com três antibióticos, sendo que dois deles são injetáveis.
Assim, ajude a divulgar a linda campanha de prevenção preparada pelo Ministério da Saúde e fique atento às novidades referentes à implementação da DoxiPEP no SUS.
Um bom carnaval a todos, com muita folia e prevenção!
*Texto originalmente postado na seção VivaBem do UOL.