
O Brasil no rumo da eliminação da transmissão do HIV
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Se um epidemiologista fosse teletransportado lá da década de 1990 para dias de hoje, ele simplesmente não acreditaria nos avanços que o Brasil tem conseguido alcançar no controle da epidemia de HIV/Aids.
Enquanto naquela época as mulheres cis que viviam com HIV eram orientadas a não engravidarem devido ao risco de transmissão vertical do vírus para o bebê que chegava a 25%, hoje é perfeitamente possível bloquear essa transmissão. E agora em junho de 2025 o Ministério da Saúde entregou à OPAS (Organização Panamericana de Saúde) um dossiê solicitando a certificação nacional da eliminação da transmissão materno-infantil do HIV.
Esta certificação é uma grande vitória, mas não significa que não teremos mais casos registrados de transmissão vertical. E sim que, devido à melhora da qualidade do pré-natal oferecido às suas gestantes, o país atingiu duas importantes metas epidemiológicas: a taxa de transmissão vertical menor que 2% e a taxa de incidência de HIV entre crianças menor que 0,5 caso a cada 1.000 nascidos vivos.
Por isso, se o acompanhamento de gestantes piorar, esses números podem voltar a aumentar.
O Brasil será o primeiro país do seu porte a receber tal certificação, que até então só tinha sido dada a países menores, como Cuba, Malásia e Tailândia. O maior país certificado até então tinha sido a Tailândia, com 71 milhões de habitantes, menos da metade da população brasileira.
A eliminação brasileira da transmissão vertical do HIV vem como um prêmio para todos os profissionais da saúde, gestores, mães, pais e todos os cidadãos que acreditaram na ciência e aplicaram seus ensinamentos às suas realidade e rotinas de cuidado de saúde em suas localidades.
O alcance dessa meta é também uma injeção de ânimo para buscarmos alcançar também a eliminação das outras formas de transmissão do HIV.
A transmissão sexual do HIV, responsável por mais de 90% dos novos casos dessa infecção no Brasil, tem também apresentado quedas expressivas de suas taxas de incidência nas localidades em que houve empenho dos gestores de saúde em divulgar e facilitar o acesso aos diferentes componentes da Prevenção Combinada, tais como a testagem e o tratamento para o HIV, e as Profilaxias Pré e Pós-Exposição ao HIV (PrEP e PEP).
O município de São Paulo, que sozinho cadastrou mais de 65.000 usuários de PrEP, registrou uma queda de 55% nos novos casos de HIV em apenas 7 anos, desde que a profilaxia foi incorporada ao SUS (Sistema Único de Saúde).
Resultados como estes da eliminação da transmissão vertical no Brasil e da queda da transmissão sexual em São Paulo devem sempre ser comemorados e servir de exemplo. No entanto, devemos lutar pela garantia da manutenção das marcas já alcançadas e para que as políticas exitosas sejam ampliadas para as localidades que ainda registram números desfavoráveis de novos casos de infecção por HIV.
Para conseguir isso e de fato eliminar a transmissão do HIV no Brasil, sabendo que as epidemias de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são influenciadas enormemente por determinantes sociais, o Ministério da Saúde criou o Programa Brasil Saudável que aborda tais questões de forma interseccional juntamente com outros 13 ministérios.
Conheça esse programa e entenda como você pode contribuir para a eliminação da transmissão dessas infecções no Brasil!
*Texto postado originalmente na seção VivaBem do UOL.