
Muito mais barata, PrEP injetável 'genérica' pode chegar ao Brasil?
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Quando o primeiro estudo comprovando a eficácia da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) em comprimidos na prevenção do HIV foi publicado em 2010, iniciou-se uma revolução inédita. A euforia foi tanta com a chegada deste novo método de prevenção que houve até quem afirmasse que a PrEP era a ferramenta que faltava para se atingir o fim da epidemia de HIV.
Hoje, 15 anos depois, esta epidemia ainda registra mais de 1,3 milhão de novos casos de infecção por HIV anualmente e se encontra longe do seu fim. No entanto, nos últimos meses ganhamos mais motivos para renovar nossas esperanças e acreditar que pode ser que agora as coisas comecem a mudar para melhor.
Após a chegada da PrEP em comprimidos, rapidamente ficou evidente o enorme impacto que a sua implementação como política pública de saúde era capaz de promover na redução dos novos casos de HIV de uma localidade. A epidemia, no entanto, não foi controlada até hoje principalmente por causa da falta de acesso à PrEP para as pessoas mais vulnerabilizadas e pela má adesão dessas pessoas à tomada correta dos comprimidos.
Nos últimos anos, com o desenvolvimento de eficazes modalidades de PrEP injetáveis de longa duração, a exigência da boa adesão ao antirretroviral para se garantir a prevenção do HIV parecia estar encontrando uma solução, entretanto, os altos custos desses medicamentos injetáveis inviabilizavam uma efetiva ampliação do seu acesso.
A primeira geração de PrEP injetável de longa duração, feita com o antirretroviral Cabotegravir aplicado por via intramuscular a cada 2 meses, teve seu uso aprovado pela ANVISA em 2023, mas somente no mês passado celebrou sua chegada, por enquanto, ao mercado privado brasileiro.
Apesar do preço ainda salgado para praticamente toda a população brasileira (cerca de R$ 3.800 por aplicação), temos motivos para comemorar pois a incorporação desse medicamento ao SUS (Sistema Único de Saúde) encontra-se em fase avança de negociação por preços muito mais baixos.
A segunda geração, por sua vez, feita com o medicamento Lenacapavir aplicado por via subcutânea semestralmente, parecia estar ainda mais distante da realidade brasileira devido ao quesito preço, afinal, nos Estados Unidos, onde já teve seu uso aprovado, está sendo vendido por U$ 14.000 por aplicação.
Eis que, na última semana, o mundo das PrEPs injetáveis de longa duração tremeu com o anúncio por parte do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) de um acordo assinado entre a fabricante do Lenacapavir e um grupo de fundações e instituições filantrópicas (UNITAID, Gates, CHAI e Witts RHI), determinando a cessão da licença para produção de uma versão genérica do medicamento por farmacêuticas indianas, possibilitando assim a drástica redução do preço do Lenacapavir para apenas U$ 40 por usuário e por ano, quando ele for destinado para uma lista de 120 países de renda baixa e média.
Se de fato conseguirmos nos próximos anos ampliar o acesso destas novas modalidades de PrEP de longa duração às pessoas mais vulnerabilizadas ao HIV, poderemos realmente e finalmente vislumbrar um futuro livre desse vírus.
No entanto, se este processo ocorrer de maneira incompleta, como fizemos com a PrEP em comprimidos, infelizmente veremos os benefícios da queda dos novos casos acontecendo apenas em parte da população, em geral aquela mais rica, escolarizada, cisgênero e branca.
Torçamos para que o Brasil logo encontre maneiras para participar destes bons acordos e para que a PrEP injetável de longa duração esteja disponível no SUS para quem mais precisa dela.
*Texto postado originalmente na seção VivaBem do UOL.