Em um ano DoxiPEP reduz pela metade ISTs em San Francisco nos EUA
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Desde que os primeiros resultados de estudos avaliando a DoxiPEP na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) bacterianas, o mundo se pergunta se essa seria a oportunidade que faltava para virar o jogo no controle dessas epidemias.
Na última semana, com a divulgação dos primeiros dados de vida real provenientes da experiência com a DoxiPEP da cidade de San Francisco, nos Estados Unidos, tudo indica que essa estratégia de prevenção deverá ter grande protagonismo nos próximos anos.
Apenas recapitulando para quem não está familiarizado com o conceito, DoxiPEP é o nome dado para a Profilaxia Pós-Exposição às ISTs bacterianas feita com tomada de uma dose única do antibiótico Doxiciclina após as relações sexuais de risco.
Os três estudos realizados até agora com homens gays e mulheres trans convergiram nos seus resultados, mostrando que o uso da DoxiPEP está associado a uma redução robusta de 70% ou mais nas infecções por clamídia e sífilis. A proteção para a gonorreia foi mais modesta, o que se justifica pela existência de gonococos resistentes ao antibiótico.
No único estudo realizado mulheres cisgênero, dada a baixa adesão aos comprimidos prescritos, não foi identificada associação da DoxiPEP com proteção contra ISTs.
No segundo semestre de 2022, quando o mundo ainda estava discutindo o que fazer diante dos primeiros estudos com a DoxiPEP, a cidade de San Francisco fez jus à sua fama de progressista e saiu na frente recomendando o uso da estratégia para homens gays e mulheres trans vulneráveis às ISTs que estivessem em uso da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) ou vivendo com HIV.
Na semana passada, durante a Conferência Mundial de HIV (CROI), que aconteceu em Denver, nos Estados Unidos, a cidade de San Francisco apresentou os resultados da sua experiência desde o início do uso da DoxiPEP. E eles são impressionantes.
Primeiramente, 39% do público-alvo projetado da DoxiPEP aceitou sem maiores obstáculos a ideia de tomar os comprimidos do antibiótico para a prevenção de ISTs, fazendo com que, até o final de 2023, mais de 3.700 pessoas tivessem aderido ao novo método de prevenção naquele município.
Analisando os casos de clamídia, sífilis e gonorreia diagnosticados em uma das maiores clínicas de saúde sexual da cidade, a redução encontrada na incidência de ISTs bacterianas como um todo foi de 58%, sendo maior para os casos de sífilis (78%) e clamídia (67%), e menor para a gonorreia (11%).
Os dados confirmam, portanto, a eficácia protetora da DoxiPEP contra ISTs bacterianas também quando usada no contexto de vida real, fora de ensaios clínicos.
Em outro trabalho, apresentado por Madeline Sankaran, uma pesquisadora do Departamento de Saúde Pública de San Francisco, foi constatado que também em nível populacional, e não apenas entre os usuários da DoxiPEP, houve uma redução nas notificações de ISTs bacterianas.
No final de 2023, após cerca de um ano do início da recomendação do uso da DoxiPEP, o número de casos de sífilis e clamídia registrados no município inteiro de San Francisco havia caído pela metade, em comparação com o período anterior à adoção do método.
Uma evidência de que tal redução foi associada à DoxiPEP é o aumento no mesmo período das notificações de ISTs entre mulheres cis, para quem a profilaxia ainda não é recomendada.
Os dados sobre mudança no perfil de resistência bacteriana aos antibióticos decorrente do uso da DoxiPEP ainda estão sendo analisados e em breve serão divulgados, o que é muito aguardado para se concluir sobre a segurança do seu uso ampliado e continuado.
Com dados comprovados de eficácia, aguardamos somente a avaliação da segurança do uso da DoxiPEP para podermos começar lutar pela ampliação do seu acesso.
Se tudo continuar dando certo, a Prevenção Combinada vai ganhar um novo componente e logo estaremos enfim vendo também aqui no Brasil a queda na curva de incidência de ISTs bacterianas.
*Texto originalmente postado na seção VivaBem do UOL.