Brasil não está preparado para novo surto de Mpox
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Em 2022, ainda durante a pandemia de Covid-19, a humanidade enfrentou um grande surto de Mpox. Causada pelo vírus Monkeypox, do gênero da Varíola Humana, essa doença se disseminou mundialmente por meio da transmissão sexual entre humanos.
Em maio de 2023, depois de significativa queda no número de casos da doença, a OMS (Organização Mundial da Saúde) deixou de classificar o surto como uma emergência de saúde global, e o assunto praticamente desapareceu dos noticiários.
Desde então, os casos de Mpox ao redor do planeta na verdade nunca deixaram de acontecer, mas de fato se tornaram muitíssimo menos frequentes que no auge do surto. Isso fez com que a doença saísse da cabeça de médicos e pacientes, bem como da lista de prioridades dos órgãos de saúde pública.
Esse cenário de calmaria, no entanto, parece estar mudando. A mesma OMS que rebaixou o alerta em relação ao Mpox em maio, recentemente publicou um documento demonstrando preocupação com o risco de um novo surto mundial de casos da doença, mas agora causado por um subtipo diferente do vírus.
O Monkeypox vírus foi descrito no final da década de 1950 e causar infecções em humanos desde 1970. Virologicamente falando, existem 2 tipos diferentes de Mpox, conhecidos como clados I e II. O surto de 2022 foi causado pelo subtipo a do clado II. Já o clado I, classicamente sempre teve seus casos restritos a alguns países da África Central, com transmissão para humanos ocorrendo a partir de roedores, e não entre humanos.
Foi assim para o clado I, até que em 2023 as coisas começaram a mudar. Entre janeiro e novembro de 2023, está sendo registrado crescimento inédito nos casos da doença causados por esse clado na República Democrática do Congo, um país centro-africano. Até agora, foram mais de 12.500 casos, com 581 mortes. E para completar, pela primeira vez foram registrados casos de transmissão sexual entre humanos do Mpox clado I.
Este fenômeno fez com que no final de novembro de 2023 a OMS publicasse o alerta por considerar que existe o risco de um novo surto mundial, agora causado pelo clado I. O alerta a OMS, entretanto, não tem como objetivo criar pânico, mas ressaltar a importância de não se baixar a vigilância epidemiológica num momento como esses.
Se um profissional da saúde, por exemplo, não suspeitar de Mpox ao atender um paciente, não pedir o exame confirmatório e nem tampouco notificar o caso suspeito, esse paciente não receberá as orientações corretas e assim poderá transmitir a doença não diagnosticada para seus contactantes.
No Brasil, por exemplo, estamos diante de uma completa baixa na guarda em relação ao Mpox. Somente na última semana atendi ou tive conhecimento de quatro casos da doença no meu círculo de amigos e pacientes. Casos esses que tiveram dificuldade para fazer o exame confirmatório, pois os fluxos para tal já não estão mais funcionando como estavam no auge do surto em 2022.
Da mesma forma, também não estão funcionando no Brasil os fluxos de vacinação para Mpox. Além de o Ministério da Saúde ter comprado um número limitado de doses em 2022, a distribuição delas está sendo completamente errática, fazendo com quem nem mesmo quem têm a indicação de se vacinar prevista em nota técnica, tem conseguido de fato receber suas doses.
Com a manutenção da ocorrência de casos de Mpox, ainda que em pequena quantidade, e com o alerta da OMS, penso que precisamos aqui refletir se estamos dando a devida importância para essa doença. Antes que seja tarde.